terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Documentário - Paulo Freire


http://www.youtube.com/watch?v=7mI9J4xNXNo

PAULO FREIRE NO BRASIL E NO MUNDO

O nordeste de Paulo Freire é o Brasil dos muitos milhões de brasileiros empobrecidos, inclusive de outros Estados, sem direito a uma vida digna, sem acesso à educação, à saúde, à moradia, vivos em uma realidade de sobreviventes. A realidade sofrida evidencia o abandono e comprova que muito ainda há para se fazer para erradicar a fome e a miséria.
Grande parte da contribuição teórica de Paulo Freire resultou de suas experiências no nordeste do Brasil e em outros países da América Latina. Entretanto os diversos trabalhos que Paulo Freire exerceu nos países da África também contribuíram enormemente para enriquecer sua prática e sua teoria pedagógica, levando-o a repensar certos métodos e idéias de primeiro momento de um ponto de vista político-pedagógico.
O envolvimento de Paulo Freire nos movimentos populares do nordeste, à época anterior ao golpe militar, reforçam sua opção pelas camadas menos privilegiadas da população, os chamados oprimidos. Na essência, expressam o desejo de Freire de viver em um país com menos desigualdades, com justiça social, liberdade e democracia. Foi nesse ambiente que ele pôde experimentar seu método na prática e observou ser possível alfabetizar homens e mulheres a partir da sua concepção pedagógica transformadora. A partir da experiência de Angicos/RN, Paulo Freire avança com sua pedagogia pelo Brasil até ser preso após o Golpe Militar.
O exílio representou para ele a possibilidade de outras experimentações, de muitas vivências, de reconhecimento e consolidação de sua concepção e prática pedagógicas.
Bolívia, Chile, Estados Unidos e Suíça forampaíses-casa, territórios e povos que acolheram Paulo Freire e projetaram o educador para todo o mundo. Foi o exílio pedagógico, da produção, do aprendizado e da maturidade.
Atuou na Universidade Católica de Santiago, foi consultor especial da Unesco, trabalhou na formação de adultos camponeses no Chile e depois na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos indo para Genebra, na Suíça, onde integrou o Conselho Mundial das Igrejas, como conselheiro educacional de governos do “terceiro mundo”.
Trabalhou no continente africano, em grandes projetos educacionais, inovando no método de alfabetizar, dialogando e transformando realidades de silêncio em vidas repletas de palavras e atos. “Andarilhou”, por toda a década de 1970, por países de todos os continentes.
Freire foi reconhecido mundialmente pela sua práxis educativa. Recebeu numerosas homenagens. Além de ter seu nome adotado por muitas instituições, é cidadão honorário de várias cidades no Brasil e no exterior. No Brasil, após o exílio, foi professor da Faculdade de Educação da Unicamp e da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC).
Ao assumir o cargo de Secretário de Educação da cidade de São Paulo, em janeiro de 1989, onde atuou de maneira integral, reformando escolas, estruturando os colegiados, reformulando o currículo escolar, investindo em formação de professores e do pessoal administrativo e técnico, também educadores.
No Brasil e no mundo, Paulo Freire é referência da educação libertária e libertadora, seja na educação popular, o foco principal de sua prática pedagógica, seja na educação em geral. Mas sua influência está além do campo específico da educação. Além de tantos outros campos de saber, Freire está presente em muitos movimentos sociais de caráter progressista, como o Fórum Social Mundial e o Fórum Mundial de Educação.

Principal Artigo

PAPEL DA EDUCAÇÃO NA HUMANIZAÇÃO

Não se pode encarar a educação a não ser como um que fazer huma­no. Que fazer, portanto, que ocorre no tempo e no espaço, entre os homens uns com os outros.
Disso resulta que a consideração acerca da educação como um fenô­meno humano nos envia a uma análise, ainda que sumária, do homem.

O que é o homem, qual a sua posição no mundo - são perguntas que temos de fazer no momento mesmo em que nos preocupamos com educação. Se essa preocupação, em si, implica nas referidas indagações (preocupações também, no fundo), a resposta que a ela dermos encaminhará a educação para uma finalidade humanista ou não.

Não pode existir uma teoria pedagógica, que implica em fins e meios da ação educativa, que esteja isenta de um conceito de homem e de mundo. Não há, nesse sentido, uma educação neutra. Se, para uns, o homem é um ser da adaptação ao mundo (tomando-se o mundo não apenas em sentido natural, mas estrutural, histórico-cultural), sua ação educativa, seus métodos, seus objetivos, adequar-se-ão a essa concepção. Se, para outros, o homem é um ser de transformação do mundo, seu que fazer educativo segue um outro caminho. Se o encaramos como uma "coisa", nossa ação educativa se processa em termos mecanicistas, do que resulta uma cada vez maior domesticação do homem. Se o encaramos como pessoa, nosso que fazer será cada vez mais libertador.

Por tudo isso, nestas exposições, para que resulte clara a posição educativa que defendemos, abordamos - ainda que rapidamente - esse ponto básico: o homem como um ser no mundo com o mundo.

Livros

Frases Marcantes

FRASES
Paulo Freire foi um homem de idéias e e de uma prática renovadora progressista e democrática. Suas frases, nas mais diferentes fases da sua vida, têm a capacidade de expressar a sua concepção pedagógica, ideológica, educacional, além de revelar um pouco mais da sua sensibilidade, carinho e paixão pela vida, pelo ser humano.

“Toca violão bem baixinho e canta para eu dormir.”
(Livro do Bebê in Ana Maria Araújo Freire no livro Paulo Freire: uma biobibliografia, em “A voz da esposa”)


“Na verdade, o domínio sobre os signos lingüísticos escritos, mesmo pela criança que se alfabetiza, pressupõe uma experiência social que o precede – a da ‘leitura’ do mundo.”
(Cartas à Guiné-Bissau, 1977.)


“A retomada da infância distante, buscando a compreensão do meu ato de ‘ler’ o mundo particular em que me movia (...), me é absolutamente significativa. Neste esforço a que me vou entregando, recrio, e revivo, no texto que escrevo, a experiência vivida no momento em que ainda não lia a palavra.”
(A importância do Ato de Ler, 1982.)


“Não basta saber ler que Eva viu a uva. É preciso compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir a uva e quem lucra com esse trabalho.”
(Educação na Cidade, 1991.)


“Dai a ênfase que dou (...) não propriamente à análise de métodos e técnicas em si mesmos, mas ao caráter político da educação, de que decorre a impossibilidade de sua neutralidade.”
(Ação Cultural para a Liberdade, 1976)
“Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em comunhão.”
(Pedagogia do Oprimido, 1968.)


A consciência do mundo e a consciência de si como ser inacabado necessariamente inscrevem o ser consciente de sua inconclusão num permanente movimento de busca (...).
(Pedagogia da Autonomia, 1997.)

“Aos esfarrapados do mundo e aos que neles se descobrem e, assim descobrindo-se, com eles sofrem, mas, sobretudo, com eles lutam.”
(Pedagogia do Oprimido, 1968.)


“Quando penso em minha Terra, penso sobretudo no sonho possível – mas nada fácil – da invenção democrática de nossa sociedade.”
(À Sombra desta Mangueira, 1995.)


“Devemos compreender de modo dialético a relação entre a educação sistemática e a mudança social, a transformação política da sociedade. Os problemas da escola estão profundamente enraizados nas condições globais da sociedade.”
(Medo e Ousadia, 1987.)



“Minha fala (..) estava acrescida de um significado que antes não tinha. Era, no momento (...) em que a comunhão não era apenas a de homens e de mulheres e de deuses e ancestrais, mas também a comunhão com as diferentes expressões de vida. O universo da comunhão abrangia as árvores, os bichos, os pássaros, a terra mesma, os rios, os mares. A vida em plenitude.”
(Pedagogia da Esperança, 1992.)


“Para a concepção crítica, o analfabetismo nem é uma ‘chaga’, nem uma ‘erva daninha’ a ser erradicada (...), mas uma das expressões concretas de uma realidade social injusta.”
(Ação Cultural para a Liberdade, 1976)


“Daí que os intelectuais que aderem a esse sonho tenham de selá-lo na passagem que devem realizar ao universo do povo. No fundo, tem de viver com ele uma comunhão em que, sem dúvida, terão muito o que ensinar se, porém, com humildade e não por tática, aprenderem a renascer como um intelectual ficando-novo.”
(Por uma Pedagogia da Pergunta, 1989.)


“É porque podemos transformar o mundo, que estamos com ele e com outros. Não teríamos ultrapassado o nível de pura adaptação ao mundo se não tivéssemos alcançado a possibilidade de, pensando a própria adaptação, nos servir dela para programar a transformação.”
(Pedagogia da Indignação, 2000.)

“A pessoa conscientizada tem uma compreensão diferente da história e de seu papel nela. Recusa acomodar-se, mobiliza-se, organiza-se para mudar o mundo.”
(Cartas à Cristina, 1994.)


“O amor é uma intercomunicação íntima de duas consciências que se respeitam. Cada um tem o outro como sujeito de seu amor. Não se trata de apropriar-se do outro.”
(Educação e Mudança, 1979.)


“Desrespeitando os fracos, enganando os incautos, ofendendo a vida, explorando os outros, discriminando o índio, o negro, a mulher, não estarei ajudando meus filhos a ser sérios, justos e amorosos da vida e dos outros.”
(Pedagogia da Indignação, 2000.)
Últimas palavras escritas por Paulo Freire. Referia-se ao índio Galdino, assassinado por um grupo de adolescentes, em Brasília, 1997.
EDUCAÇÃO E POLÍTICA

“As chamadas minorias, por exemplo, precisam reconhecer que, no fundo, elas são a maioria. O caminho para assumir-se como maioria está em trabalhar as semelhanças entre si e não só as diferenças e assim criar a unidade na diversidade, fora da qual não vejo como aperfeiçoar-se e até como construir-se uma democracia substantiva, radical.”
(Freire, Paulo. Pedagogia da esperança. Paz e Terra, 1992).

Para Paulo Freire, cidadão significa "indivíduo no gozo dos direitos civis e políticos de um Estado" e cidadania "tem que ver com a condição de cidadão, quer dizer, com o uso dos direitos e o direito de ter deveres de cidadão". É assim que ele entende "a alfabetização como formação da cidadania" e como "formadora da cidadania". (FREIRE, Paulo. Política e Educação, Cortez, 1993.) A práxis freireana trata a educação para além da sala de aula, relaciona-se a todo um contexto de opressão social e ausência de democracia. De maneira ampla e diversificada, suas idéias alcançam as áreas da economia, das ciências sociais, da física, da química, da psicologia, da política, entre outras. Trata, evidentemente, de construir a cidadania para cada um e para todos.


“Um desses sonhos para que lutar, sonho possível mas cuja concretização demanda coerência, valor, tenacidade, senso de justiça, força para brigar, de todas e de todos os que a ele se entreguem, é o sonho por um mundo menos feio, em que as desigualdades diminuam, em que as discriminações de raça, de sexo, de classe sejam sinais de vergonha e não de afirmação orgulhosa ou de lamentação puramente cavilosa. No fundo, é um sonho sem cuja realização a democracia de que tanto falamos, sobretudo hoje, é uma farsa.” 
(FREIRE, Paulo. Política e Educação, 2001.)
É essa prática libertadora que chega como experiência inovadora à cidade de Angicos/RN, no início da década de 1960. No exílio, essa pedagogia avança para outros países, chegando a praticamente todos os continentes. Paulo Freire trabalha na África, Ásia, Europa e América (com exceção do Brasil), alfabetizando, politizando, conscientizando, indicando os caminhos para a libertação. A experiência africana, na década de 1970, onde camponeses, homens e mulheres trabalhadores, participaram de processos de alfabetização, em áreas de tensões e conflitos de classe, resultou na consolidação e reconhecimento do “método”. No continente africano, Freire esteve na Tanzânia, Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique.

“A cidadania é uma invenção coletiva. Cidadania é uma forma de visão do mundo”.
(Paulo Freire)

Desde os seus primeiros passos na prática pedagógica, Paulo Freire optou por uma pedagogia política centrada na liberdade e na autonomia do ser, propondo a politização da educação.
Ao avaliar que o processo do conhecimento acontece quando o indivíduo, ao se reconhecer humano, é estimulado a refletir sobre os seus problemas na vida cotidiana, otrabalho pedagógico político de Paulo Freire movimenta-se para o homem excluído das ações políticas, julgado,pelos poderosos como incapaz de definir sua existência.
Aliando educação e política, fazendo-as caminhar juntas no seu trabalho de acompanhamento pedagógico de homens e mulheres iletrados, em várias partes do mundo, Paulo Freire os motivou à reconquista dos seus direitos e da sua voz, via apropriação da palavra, da leitura e da escrita. Ler o mundo, lendo a palavra, surge como esperança possível para homens e mulheres de redescobrir seus próprios valores e encontrarem-se com seus semelhantes em busca de libertação das forças que os oprimem. Educação e Política, na concepção freireana, apontam sempre na direção de um ser pleno de cidadania, capaz de assumir para si o comando dos seus processos de existência liberta e progressista.

Método Paulo Freire de Educação

O MÉTODO PAULO FREIRE
Não é possível se falar da compreensão de educação de Paulo Freire sem nos referirmos e nos determos numa parte intrínseca dela: o seu “Método de Alfabetização”. Esse vai além da simples alfabetização. Propõe e estimula a inserção do adulto iletrado no seu contexto social e político, na sua realidade, promovendo o despertar para a cidadania plena e transformação social. É a leitura da palavra, proporcionando a leitura do mundo. Suas idéias nasceram no contexto do Nordeste brasileiro a partir da década de 1950, onde metade dos seus 30 milhões de habitantes eram analfabetos, com predomínio do colonialismo e todas as vivências impostas por uma realidade de opressão, imposição, limitações e muitas necessidades.
Freire aplicou, pela primeira vez, publicamente, o seu método no “Centro de Cultura Dona Olegarinha”, um C írculo de Cultura do Movimento de Cultura Popular do Recife (MCP) para discussão dos problemas cotidianos na comunidade de “Poço da Panela”.
Dos 5 alunos, três aprenderam a ler e escrever em 30 horas, outros 2 abandonaram o “curso”.
O método de alfabetização de Paulo Freire é resultado de muitos anos de trabalho e reflexões de Freire no campo da educação, sobretudo na de adultos em regiões proletárias e subproletárias, urbanas e rurais, de Pernambuco. No processo de aprendizado, o alfabetizando ou a alfabetizanda é estimulado(a) a articular sílabas, formando palavras, extraídas da sua realidade, do seu cotidiano e das suas vivências. Nesse sentido, vai além das normas metodológicas e lingüísticas, na medida em que propõe aos homens e mulheres alfabetizandos que se apropriem da escrita e da palavra para se politizarem, tendo uma visão de totalidade da linguagem e do mundo. O método Paulo Freire estimula a alfabetização/educação dos adultos mediante a discussão de suas experiências de vida entre si, os participantes da mesma experiência, através de tema/palavras gerador(as) da realidade dos alunos, que é decodificada para a aquisição da palavra escrita e da compreensão do mundo. As experiências acontecem nos Círculos de Cultura.





“Estudar não é um ato de consumir idéias, mas de criá-las e recriá-las.”
FREIRE P.. (1982) Ação cultural para a liberdade e outros escritos. Rio de Janeiro: Paz e Terra (6ª edição), pp. 09-12.
O “MÉTODO PAULO FREIRE” ESTÁ ESTRUTURADO EM TRÊS ETAPAS:

1) Etapa de Investigação: aluno e professor buscam, no universo vocabular do aluno e da sociedade onde ele vive, as palavras e temas centrais de sua biografia.


2) Etapa de Tematização: aqui eles codificam e decodificam esses temas, buscando o seu significado social, tomando assim consciência do mundo vivido.


3) Etapa de Problematização: aluno e professor buscam superar uma primeira visão mágica por uma visão crítica do mundo, partindo para a transformação do contexto vivido.


Em seu livro Educação como Prática da Liberdade, Freire propõe a execução prática do Método em cinco fases, a saber:


1ª fase: Levantamento do universo vocabular dos grupos com quem se trabalhará. Essa fase se constitui num importante momento de pesquisa e conhecimento do grupo, aproximando educador e educando numa relação mais informal e portanto mais carregada de sentimentos e emoções. É igualmente importante a anotação das palavras da linguagem dos componentes do grupo, dos seus falares típicos.
2ª fase: Escolha das palavras selecionadas do universo vocabular pesquisado. Esta escolha deverá ser feita sob os critérios: a) da sua riqueza fonética; b) das dificuldades fonéticas, numa seqüência gradativa das menores para as maiores dificuldades; c) do teor pragmático da palavra, ou seja, na pluralidade de engajamento da palavra numa dada realidade social, cultural, política etc.


3ª fase: Criação de situações existenciais típicas do grupo com quem se vai trabalhar. São situações desafiadoras, codificadas e carregadas dos elementos que serão decodificados pelo grupo com a mediação do educador. São situações locais que, discutidas, abrem perspectivas para a análise de problemas locais, regionais e nacionais.


4ª fase: Elaboração de fichas-roteiro que auxiliem os coordenadores de debate no seu trabalho. São fichas que deverão servir como subsídios, mas sem uma prescrição rígida a seguir.


5ª fase: Elaboração de fichas para a decomposição das famílias fonéticascorrespondentes aos vocábulos geradores. Esse material poderá ser confeccionado na forma de slides, stripp-filmes (fotograma) ou cartazes.
“É mais do que um método que alfabetiza, é uma ampla e profunda compreensão da educação que tem como cerne de suas preocupações a natureza política.”
(A Voz da Esposa - A Trajetória de Paulo Freire)