quinta-feira, 20 de outubro de 2011

INFÂNCIA




O quintal da casa, na Estrada do Encanamento, 724, no bairro Casa Amarela, no Recife (PE), foi o espaço de alfabetização de Paulo Freire. Ali, aprendeu a ler e também a escrever, utilizando os gravetos que encontrava pelo chão. Criou-se em um ambiente católico, junto com os irmãos e as irmãs, cercado de muito afeto e atenção dos pais, a ponto de só adormecer embalado pelo som do violão tocado pelo “seu papá”, como o chamava. À sombra das mangueiras, sua mãe o ensinou a ler as palavras que o permitiriam ler o mundo à sua volta.
Talvez um prenúncio daquele que seria o mais revolucionário método de alfabetização proposto no século XX, criado por Paulo Freire na década de 1960, que tinha a realidade do aluno como ponto de partida para a aprendizagem permanente.

Sua mãe escreveu para ele um Livro do Bebê, onde revela fatos, hábitos e casos da sua infância. Ela começa falando do dia do seu nascimento:

"Paulo nasceu numa segunda-feira de tristeza e aflições, pois o seu Papá estava muito mal, sem esperanças de restabelecer-se, quase que o Paulinho seria órphão ao nascer, porém, o bom Jesus livrou-o dessa desaventura, presenteou-o restituindo a saúde ao seu Papá".

A senhora Edeltrudes confessa que ele é orgulhoso e que só falará quando souber mesmo. Fala do quanto ele é afetuoso e ciumento e não consente que seus irmãozinhos aproximem-se da mãe. Fica com raiva e diz logo "sai, sai, mamãe minha". (In: Ana Maria Araújo, em "A voz da esposa", Paulo Freire: uma biobibliofrafia, 1995).
Paulo Freire foi uma criança muito devota. Assim diz a mãe: "com verdadeiro carinho pega no crucifixo". “Ele não se conformava em ir à aula sem as lições prontas, chorava demais. Enquanto não tinha certeza que sabia, não comparecia à aula", acrescentou ela. (Livro do Bebê in Ana Maria Araújo Freire no livro Paulo Freire: uma biobibliografia, em “A voz da esposa”).
Aos 6 anos, já alfabetizado, ele entra para a escola particular da sua primeira professora, Eunice Vasconcelos, a quem se refere sempre como “professorinha”, uma presença muito forte em sua formação. Ela o ensinou a colocar no papel quantas palavras pudesse, para depois formar sentenças e discutir com ele o significado de cada uma delas:

“Fui criando naturalmente uma intimidade e um gosto com as ocorrências da língua – os verbos, seus modos, seus tempos,A professorinha só intervinha quando eu me via em dificuldade, mas nunca teve a preocupação de me fazer decorar regras gramaticais.”(Paulo Freire)

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Cronologia



1921
Paulo Freire nasce em Recife, no dia 19 de setembro.

1927
Entra, já alfabetizado, para a escolinha particular da professora Eunice Vasconcelos.

1931
Mudança para Jaboatão dos Guararapes/PE.

1934
Morte do pai quando Paulo tinha 13 anos.

1937 a 1942
Cursa o Ensino Secundário no Colégio Osvaldo Cruz, do Recife, onde teve seu primeiro emprego, tornando-se, em 1942, professor de língua portuguesa do mesmo.

1943
Ingressa na Faculdade de Direito do Recife.

1947
Forma-se Bacharel em Direito.

1944
Casa-se com Elza Maia Costa de Oliveira.

1947
Assume a Diretoria da Divisão de Educação e Cultura, do Sesi-Pernambuco.

1952
Nomeado Professor Catedrático da Faculdade de Belas Artes, da Universidade do Recife.

1954
Foi nomeado Diretor Superintendente do Departamento Regional de Pernambuco do SESI-PE, cargo que ocupou até outubro de 1956.

1960
Defende tese e obtém o título de Doutor em Filosofia e História da Educação.

1961
Foi-lhe conferido o título de Livre Docente da Faculdade de Belas Artes. Tendo perdido o cargo de docente desta Escola, foi nomeado Professor Assistente de Ensino Superior, de Filosofia, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, da Universidade do Recife.

1962
Cria e foi o primeiro Diretor do Serviço de Extensão Cultural, da Universidade do Recife.

1963
Realiza a Experiência de Alfabetização de Angicos/RN. Cria as bases do Programa Nacional de Alfabetização, do Governo João Goulart.

1964
Golpe Militar extingue o Programa Nacional de Alfabetização.
Prisão no Recife.
Asilo na Embaixada da Bolívia, no Rio de Janeiro.
Em setembro parte para a Bolívia.
Em novembro segue para o Chile.

1965
Publica o livro Educação Como Prática da Liberdade.

1967 a 1968
Escreve no Chile o livro Pedagogia do Oprimido.

1969
Muda-se para Cambridge, Massachussetts, USA.

1970
Transfere-se para Genebra, Suíça, para trabalhar no Conselho Mundial das Igrejas, passa a “andarilhar” pelos cinco continentes.

1971
Funda, com outros exilados, o Instituto de Ação Cultural (IDAC), em Genebra. dedica-se de modo especial ao trabalho de educação em alguns países africanos.

1979
Obtém seu primeiro passaporte e visita São Paulo, Rio de Janeiro e Recife.

1980
Retorna ao Brasil, para lecionar na PUC/SP e na Unicamp.

1981
Participa da fundação do Vereda - Centro de Estudos em Educação, em São Paulo.

1982
Publica A importância do ato de ler em três artigos que se completam, livro que mereceu, em julho de 1990, o “Diploma de Mérito Internacional”, concedido pela “International Reading Assocition”, na Suécia.
Deste ano até 1992, escreve os “livros falados”, isto é, livros nos quais, estimulado por outros educadores, narrava a sua vida e explicitava as suas reflexões.

1986
Recebe o Prêmio UNESCO da Educação para a Paz.
No dia 24 de outubro morre sua primeira esposa, Elza Maia Costa de Oliveira.

1987
Passa a integrar o júri internacional da UNESCO, que escolhe e premia as melhores experiências de alfabetização do mundo.

1988
No dia 27 de março, casa-se em cerimônia religiosa, no Recife, com Ana Maria Araújo Hasche e, em 19 de agosto, em cerimônia civil, quando ela passa a assinar Freire.

1989
Assume o cargo de Secretário de Educação da cidade de São Paulo.

1991
Afasta-se da SMEd-SP para escrever livros. Retorna a lecionar na PUC/SP. Demite-se da UNICAMP.

1988 a 1997
Volta depois de 10 anos a escrever livros autorais: Pedagogia da Esperança. Cartas a Cristina: reflexões sobre a minha vida e minha práxis. Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar. Política e educação. À sombra desta mangueira e Pedagogia da Autonomia, além de outros com diversos educadores. e inúmeros artigos e conferências.

1997
Faleceu no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, no dia 02 de maio, vítima de um infarto agudo do miocárdio. Deixou 5 filhos e viúva.

Paulo Freire participou durante a sua vida de fóruns e debates. Realizou milhares de palestras e conferências. Deu pareceres sobre os mais diversos assuntos. Concedeu entrevistas para jornais, revistas e televisão. Envolveu-se nos movimentos sociais progressistas, entre muitas outras atividades como militante e como intelectual. Recebeu prêmios, títulos e homenagens em todo o mundo, entre estas 39 títulos de Doutor Honoris Causa, dos quais 5 entregues à sua viúva.
A partir de 2000, a sua viúva Ana Maria Araújo Freire, na qualidade de sucessora legal da obra de Paulo Freire, organizou seus textos inéditos, nomeou-os e publicou na “Série Paulo Freire”, da qual é diretora: Pedagogia da Indignação, Pedagogia dos Sonhos Possíveis e Pedagogia da Tolerância.